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domingo, 5 de abril de 2020

Os privilégios de ser ovelha do Bom pastor



O Salmo 23 é mundialmente conhecido. Milhões de pessoas o sabem de cor. Sua mensagem tem sido bálsamo para os aflitos, consolo para os tristes e encorajamento para os que estão desalentados. Jesus Cristo é o bom Pastor que morreu pelas ovelhas (Salmo 22). Jesus Cristo é o grande Pastor que vive pelas ovelhas (Salmo 23). Jesus Cristo é o supremo Pastor que voltará para as ovelhas (Salmo 24). Quais são os privilégios de ser ovelha do bom, grande e supremo Pastor? O Salmo 23 nos fala sobre três importantes verdades. Vamos aqui considerá-las:

1. O Pastor das ovelhas  (Salmo 23.1)

"O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará ". Duas verdades são aqui destacadas: A primeira  é que o nosso pastor é divino. Ele é o Deus autoexistente, onipotente, onisciente, e onipresente. Ele é o Deus da aliança, o Deus de toda graça, o nosso criador, sustentador e salvador. Nele nos movemos e existimos. A Bíblia nos revela vários nomes de Deus: Cada um fala de uma faceta do Todo-Poderoso. Mas aqui Davi usa o nome Javé. É o Eu Sou o Que Sou; O Deus da aliança: o Deus da nossa salvação. A segunda verdade é que o nosso pastor é pessoal. Ele é o meu pastor. Ele tem conosco uma relação pessoal. Ele nos conhece e nos chama pelo nome. Ele vela por nós, cuida de nós e supre todas as nossas necessidades.

2. A provisão das ovelhas  (Salmo 23.2-5)

A ovelha é um animal indefeso, míope e incapaz de cuidar de si mesma. Ela necessita do cuidado do pastor. O texto em tela nos fala sobre quatro provisões que a ovelha recebe do pastor. A primeira provisão é o descanso (v. 2). O Senhor nos faz repousar em pastos verdejantes e nos leva para as águas tranquilas. Ele não apenas nos provê alimento e água, mas também nos dá paz no vale. Não apenas nos dá o que necessitamos, mas ele mesmo nos conduz à suas fontes de provisão, fazendo-nos descansar. A segunda provisão é a direção (v. 3). O nosso Pastor nos guia pelas veredas da justiça. Se fossemos abandonados à nossa própria sorte, entraríamos pelos atalhos perigosos e escorregadios do engano. Se seguíssemos as inclinações do nosso coração, certamente caminharíamos por trilhas sinuosas que desembocariam em lugares de morte. Mas o nosso Pastor nos guia pelas veredas da justiça. A terceira provisão é a consolação (v. 4). Na jornada da vida há muitos perigos. A vida cristã não é uma colônia de férias. Cruzamos desertos inóspitos e vales escuros. Atravessamos rios caudalosos e precisamos andar sobre pinguelas estreitas. Porém, mesmo que andemos pelo vale da sombra da morte, não precisamos temer mal algum, porque o nosso Pastor está conosco. Sua presença é o antídoto para o nosso medo. A quarta provisão é a vitória (v. 5). O nosso Pastor não apenas caminha conosco diante das dificuldades, mas nos dá vitória contra os inimigos. Ele nos honra, ungindo nossa cabeça com óleo e nos dá alegria abundante, fazendo o nosso cálice transbordar.

3. O futuro das ovelhas (Salmo 23.6)

A ovelha de Jesus tem um "passado" passado a limpo. Somos lavados em seu sangue e remidos por sua morte vicária. A ovelha de Jesus tem um presente seguro, uma vez que bondade e misericórdia são como duas escoltas que nos ladeiam todos os dias da nossa vida. Bondade é o que Deus nos dá e nós não merecemos. Misericórdia é o que Deus nos dá e nós não merecemos. Ele nos dá graça quando merecíamos o juízo. Ele suspende o castigo e nos abençoa quando merecíamos ser punidos.  A ovelha de Jesus tem também um futuro glorioso, pois, depois que a sua jornada terminar neste mundo, irá habitar na Casa do Senhor para sempre. A morte não nos pode separar do nosso Pastor. Ele preparou-nos um lugar, uma casa, um lar, uma pátria. O céu é nosso destino. Estaremos para sempre com ele. Reinaremos com ele. Desfrutaremos de sua bendita companhia para sempre, num lugar onde não haverá choro, nem pranto, nem dor. Oh! Quão felizes são as ovelhas do Bom, Grande e Supremo Pastor!

Trecho extraído da Bíblia Almeida século 21, com devocionais de Hernandes Dias Lopes.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Nenhuma nova revelação!






"Em quem [Cristo] 'estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência' (Cl. 2:3) com tamanha abundância e riqueza que quer esperar por ou buscar qualquer nova adição a estes tesouros é verdadeiramente levantar a ira de Deus e provocá-lo contra nós. É para nós esfomear por, buscar, olhar para, aprender e estudar Cristo somente, até chegar aquele grande dia quando o Senhor irá completamente manifestar a glória do seu Reino (cf. 1 Co 15:24) e irá mostrar-se a si mesmo para nós o vermos como Ele é (1 Jo 3:2). E por esta razão esta nossa era é designada nas Escrituras de 'última hora' (1 Jo 2:18), os 'últimos dias' (Hb 1:1), os 'últimos tempos' (1 Pe 1:20), que ninguém se iluda a si próprio com uma vã expectação de uma nova doutrina ou revelação. 'Havendo Deus antigamente falado muitas vezes e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas, a nós, falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho' (Hb 1:1-2), quem somente pode revelar o Pai (Lc 10:22); e Ele tem de facto manifestado o Pai plenamente, tanto quanto nós pedirmos, enquanto nós agora vemo-lo num espelho (1 Co 13:12)" (Institutes 4.18.20).

"Isto, entretanto, permanece certo: a perfeita doutrina que Ele trouxe tornou-se num fim todas as profecias. Todos aqueles, então, que não contentes com o evangelho, remendam-no com algo estranho, excluída da autoridade de Cristo. A voz que trovejou do céu, 'Este é o meu Filho amado; ... ouçam-no' (Mt 17:5); cf Mt 3:17), exaltou-o por um privilégio singular além do alcance de todos os outros. Então esta unção foi difundida da Cabeça para os membros, como Joel havia predito: 'Vossos filhos profetizarão e vossas filhas ... terão visões,' etc. (Jl 2:28). Mas quando Paulo diz que Ele foi-nos dado a nós como nossa sabedoria (1 Co 1:30), e noutro lugar, 'Nele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Cl 2:3), ele tem algo ligeiramente diferente em mente. Isso é, fora de Cristo, não há nada que valha conhecer, e todos os que pela fé percebem como Ele é têm alcançado toda a imensidão dos benefícios celestiais. Por esta razão, Paulo escreve numa outra passagem: 'nada precioso me propus saber, entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado' (1 Co 2:2). Isto é muito verdade, porque não é permitido ir além da simplicidade do evangelho e a dignidade profética em Cristo conduz-nos a conhecer que na soma da doutrina como no-la tem dado a nós estão contidas todas as partes da perfeita sabedoria" (Institutes 2.15.2).

"E quando ele fala de os últimos tempos, Ele intima que não há mais nenhuma razão para esperar nova revelação; porque não foi uma palavra em parte que Cristo trouxe, mas a conclusão final. É neste sentido que os apóstolos tomam 'os últimos tempos' e 'os últimos dias'. 'E Paulo quer dizer o mesmo quando diz, 'para quem já são chegados os fins dos séculos' (1 Co 10:11). Se Deus então falou pela última vez, é certo avançar até aqui; como também quando tu vens a Cristo, tu não deves ir  além: e estas duas coisas são muito necessárias para nós sabermos. Porque foi um grande obstáculo para os judeus que eles não consideravam que Deus tinha reservado uma revelação mais completa para outro tempo; assim, estando satisfeitos com a sua própria lei, eles não avançavam para o alvo. Mas desde que Cristo apareceu, um mal oposto começou a prevalecer no mundo; porque os homens desejaram avançar além de Cristo. Que mais é todo o sistema do papado, mas o ultrapassar dos limites que o apóstolo fixou? Assim pois, o Espírito de Deus nesta passagem convida todos a vir tão só a Cristo, e então os proíbe de irem além no tempo que resta que ele menciona. Em suma, o limite da nossa sabedoria é dita aqui ser o Evangelho" (Coment. em HB 1:1)












terça-feira, 30 de agosto de 2016

A Causa Eficiente da Regeneração



A Causa Eficiente da Regeneração

Há somente três conceitos fundamentais diferentes a considerar, e todos os demais são modificações destes.

1. A VONTADE HUMANA.  De acordo com a concepção pelagiana, a regeneração é unicamente um ato da vontade humana, e é praticamente idêntica à autorreforma.
Com algumas diferenças ligeiras, este é o conceito da Teologia Liberal moderna. Uma modificação deste conceito é a dos semipelagianos e arminianos, que a consideram, ao menos em parte, como um ato do homem, cooperando com influências divinas aplicada mediante a verdade. Esta é uma teoria sinergista da regeneração. Estes dois conceitos envolvem uma negação da depravação total do homem, tão claramente ensinada na Palavra de Deus, Jo 5.42; Rm 3.9-18; 7.18,23; 8.7; 2Tm 3.4, e da verdade bíblica de que é Deus que inclina a vontade do homem, Rm 9.16; Fp 2.13.

2. A VERDADE. Segundo este conceito, a verdade, como um sistema de motivos, apresentada à vontade humana pelo Espírito Santo, é a causa imediata da mudança da impureza para a santidade. Esta era a ideia de Lyman Beecher e de Charles G. Fynney. Este conceito presume que a obra do Espírito Santo difere da do pregador apenas em grau. Ambos agem somente pela persuasão. Mas esta teoria é inteiramente insatisfatória. A verdade só poderá ser um motivo para a santidade se for amada, e o homem natural não ama a verdade, mas a odeia, Rm 1.18,25. Consequentemente, a verdade, apresentada externamente, não pode ser a causa eficiente da regeneração.

3. O ESPÍRITO SANTO. O único conceito adequado é o da Igreja de todos os séculos, de que o Espírito Santo é a causa eficiente da regeneração. Significa que o Espírito Santo age diretamente no coração do homem e muda sua condição espiritual. Não há nenhuma cooperação do pecador nesta obra. É obra do Espírito Santo, direta e exclusivamente, Ez 11.19; Jo 1.13; At 16.14; Rm 9.16; Fp 2.13. Então, a regeneração deve ser concebida monergisticamente. Só Deus age, e o pecador não participa em nada desta ação. Isto, naturalmente, não significa que o homem não coopera com o Espírito de Deus nos estágios posteriores da obra de redenção. É mais que evidente na Escritura que o faz.

Autor: Louis Berkhof
Fonte: Teologia Sistemática/ Louis Berkhof; traduzido por Odayr Olivetti. - 4ª Ed. Revisada - São Paulo: Cultura Cristã, 2012. pág 436.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Apologética



É por demais frequente que irmãos e irmãs bem - intencionados entrem no meio da briga, ansiosos por enfrentar o inimigo, só para serem eles mesmos tomados ou massacrados perante espectadores animados. É por isso que nos é dito: "... estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor" (1Pe 3.15) com relação ao inquiridor.
Nessa passagem, a ênfase está sobre estar preparado.

Quando Paulo foi até o Areópago para apresentar as reivindicações do Cristianismo, em Atos 17, ele não o fez com um conjunto de argumentos reducionistas ou referências ao seu testemunho pessoal do que Deus havia feito por ele. Ele tampouco ignorou o contexto. Ao citar de memória a poesia e prosa de filósofos gregos seculares, Paulo edificou pontes de compreensão. Ele o fez, não ao confundir as coisas terrenas (a própria filosofia grega) com as celestiais (a verdade última sobre Deus e a revelação natural que os seus ouvintes possuíam, e então retirando a escada quando chegou à discussão das questões reservadas para a revelação especial (a Escritura). A revelação natural (nesse caso, a verdade que havia na filosofia grega) foi útil até certo ponto, mas para continuar a discussão e proclamar a verdade sobre Deus e a condição humana, o juízo e a salvação, o apóstolo teve que depender da revelação especial: o relato da obra e da morte e da ressurreição de Cristo, bem como o seu direito de julgar. Paulo entendeu e explorou a verdade da visão secular do mundo, mas julgou os erros a partir da Escritura.

Os que desconhecem a força daquilo que faz parte da escravidão do incrédulo nunca saberão como libertá-lo. Isso não quer dizer que todo cristão tenha que se tornar imediatamente um perito em todas as ramificações da sabedoria e do conhecimento da história humana, mas significa, sim, que o testemunho cristão não pode ser ingênuo. Ele não pode simplesmente ridicularizar a incredulidade.

Como já vimos, existem grandes riscos em ignorar a mente secular - não só porque, como disse Calvino, perdemos os dons de Deus distribuídos até mesmo aos incrédulos por sua graça comum, mas porque nós ficamos sem ter como saber a extensão na qual nós mesmos fomos formados, ainda que indiretamente, por essas tendências do pensamento secular. Quando lemos Pragmatism de James ou o tratado de Mills sobre o Utilitarismo, começamos a reconhecer algumas das forças que forjaram a nossa cultura e, portanto, o nosso próprio pensamento como cristãos. Não podemos nos divorciar do nosso tempo e lugar, do mesmo modo que um asiático ou um africano não pode se distanciar do seu contexto, e é ingenuidade pensar que simplesmente lemos a Bíblia sem nenhum antolho cultural. A fim de julgar as nossas idéias, temos que reconhecer duas coisas da melhor maneira que pudermos: as forças do mundo que formam os nossos pensamentos, e as verdades da Escritura, que corrigem os nossos pensamentos e revelam Deus e suas promessas de salvação para nós. Os que não se preocupam em ler livros seculares serão empobrecidos e suscetíveis à sedução sutil e indireta, enquanto os que não se preocupam em estudar com cuidado a Escritura perderão o seu único fio de prumo para julgar a verdade em contraposição ao erro, a crença em contraposição à incredulidade, o certo em contraposição ao errado. Os que conhecem a Escritura e a sua cultura têm a capacidade de reconhecer a verdade e rejeitar a falsidade quando a escutam ou lêem -  seja na literatura secular ou do púlpito.

Autor: Horton, Michael Scott
Fonte: O cristão e a cultura / Michael Scott Horton. [tradução Elizabeth Stowell Charles Gomes]. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. págs 61,62.

domingo, 21 de agosto de 2016

Cristo como a verdadeira imagem de Deus



Ao perguntarmos a respeito do que devemos entender por imagem de Deus, somos lembrados do fato de que, no Novo Testamento Cristo é chamado de imagem de Deus por excelência; ele é a "imagem do Deus invisível" (Cl 1.15). Se querermos, portanto, realmente saber como é a imagem de Deus no homem, devemos primeiro olhar para Cristo. Isso significa, entre outras coisas, que o fundamental na imagem de Deus não são qualidades tais como razão ou inteligência; mas pelo contrário, o amor, pois, mais do que tudo, o que se destaca na vida de Cristo é o seu maravilhoso amor. Em Cristo, portanto, vemos de forma clara o que está escondido em Gênesis 1, a saber: a imagem perfeita de Deus que o homem deveria ser.

Observando Jesus Cristo, percebemos haver uma dupla estranheza a respeito dele. Há, primeiro, a estranheza de sua divindade. Ele é o Deus-homem, aquele que se atreve dizer que ele e o pai são um - uma afirmação que fez os judeus o acusarem de blasfêmia (Jo 10.31-33). É aquele que perdoa pecados - algo que somente Deus pode fazer. É aquele que até ousa dizer: "Antes que Abraão existisse, EU SOU!" (Jo 8.58).

Mas há também a estranheza com relação à sua humanidade. Embora genuinamente humano, é ímpar em sua humanidade. É totalmente sem pecado. Sua obediência ao Pai é perfeita; sua vida de oração, incomparável; seu amor pelas pessoas, insondável. E, de repente, percebemos que essa estranheza nos faz sentir vergonha, porque ela nos diz o que todos nós deveríamos ser. A estranheza no Jesus humano é como um espelho colocado diante de nós; é uma estranheza exemplar, pois nos diz qual a vontade de Deus para cada um de nós.

Quando observamos mais detalhadamente a vida de Cristo, vemos que ele era, em primeiro lugar, inteiramente voltado para Deus. No começo de seu ministério, embora extremamente tentado pelo diabo, Jesus resistiu à tentação, em obediência ao Pai. Ele costumava passar noites inteiras em oração ao Pai. Ele disse, uma vez: "A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra" (Jo 4.34). Ao final de usa vida terrena, quando defrontava-se com o terrível sofrimento que haveria de suportar como Salvador de seu povo, ele orou: "Meu Pai, se possível, passa de mim esse cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres" (Mt 26.39).

Segundo, notamos que Cristo é inteiramente voltado para o próximo. Quando as pessoas lhe apresentavam suas necessidades, fossem elas de cura, de alimento ou perdão, ele estava sempre pronto a socorrê-las. Quando, exausto de uma longa jornada, Jesus descansava junto a um poço, esqueceu-se prontamente de sua própria fadiga para evangelizar uma mulher samaritana. A Zaqueu, Jesus disse: "Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido" (Lc 19.10). Noutra ocasião, Jesus disse aos seus discípulos: "Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mc 10.45). Certa vez, Jesus indicou qual é o maior amor que alguém pode demonstrar a outro: "Ninguém tem maior amor do que este: de dar sua própria vida em favor dos seus amigos" (Jo 15.13). Esse é aquele amor que Jesus mesmo revelou: ele deu a sua vida por seus amigos.

Terceiro, Cristo domina a natureza. Com uma ordem, Jesus acalmou a tempestade que ameaçava a vida dos seus discípulos no lago da Galiléia. Mais tarde, andou sobre as águas para mostrar o seu domínio sobre a natureza. Foi também capaz de proporcionar uma pesca maravilhosa. Multiplicou os pães e transformou água em vinho. Curou muitas doenças, expulsou muitos demônios, fez os surdos ouvirem, os cegos verem, os paralíticos andarem e, até mesmo, ressuscitou mortos.

Foram essas ações miraculosas uma evidência da divindade de Cristo ou revelações daquilo que Cristo poderia fazer segundo sua humanidade confiando em seu Pai nos céus? Não podemos separar as naturezas divina e humana de Cristo; como o Concílio de Calcedônia expressou, essas duas naturezas estão sempre unidas, sem confusão, mudança, divisão ou separação. Todavia, algumas afirmações bíblicas sugerem que Jesus realizou esses milagres segundo sua humanidade perfeita confiando no poder divino: "Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós" (Mt 12.28); "Varões Israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis" (At 2.22, do sermão de Pedro no Pentecoste).

Não se pode ser dogmático quanto a isso, no entanto. Jesus era o Deus-homem e, portanto, tudo o que fez, o fez como aquele que era, a um só tempo, divino e humano. Obviamente, não conseguimos fazer milagres como Jesus; não podemos acalmar a tempestade ou ressuscitar mortos. O que podemos, porém, é aprender da vida de Cristo que o domínio sobre a natureza é um aspecto essencial do exercício da imagem de Deus - e nós precisamos encontrar nosso próprio modo de exercê-lo.

Em suma, observando Jesus Cristo, que é a imagem perfeita de Deus, aprendemos que o exercício próprio da imagem incluiu o ser voltar-se para Deus, o voltar-se para o próximo e o domínio sobre a natureza.

Autor: Anthony Andrew Hoekema
Fonte: Criados à imagem de Deus. São Paulo : Editora Cultura Cristã, 2010.  págs 88, 89, 90.

domingo, 13 de março de 2016

Um mal rei representa a ira de Deus sobre a terra



"... A Palavra de Deus, porém, nos conduzirá mais adiante, pois nos fará obedecer, não somente aos príncipes que cumprem o seu dever e mandato, mas a todos os que ocupam uma posição eminente, embora não façam aquilo que sua condição exige.
Porque o Senhor declara que os magistrados foram constituídos para a conservação do gênero humano, e, embora lhes imponha limites definidos, declara no entanto que, sendo quem forem, receberam o governo diretamente dele. Assim, agindo em vista do bem público, os governantes são verdadeiros espelhos e exemplares de bondade divina; ao contrário, aqueles que governam injusta e violentamente foram suscitados para castigo do povo; ambos, porém, foram investidos da majestade que é conferida às autoridades legítimas. Não prosseguirei antes de citar algumas passagens da Escritura que confirmam meu dizer. De fato, é fácil mostrar que um mal rei representa a ira de Deus sobre a terra (Jó 34:30; Oséias 13:11; Isaías 3:4; Isaías 10:5); parece-me que isso é aceito por todos, sem contradição. Considerando dessa maneira o assunto não devemos julgar o rei como se fosse um ladrão que rouba nossa fazenda, um adúltero que toma a mulher alheia, um homicida que procura exterminar, visto que essas calamidades constam no decálogo das maldições de Deus na lei (Deuteronômio 28:29). É preciso insistir em provar aquilo que dificilmente conseguimos entender: que um homem perverso e indigno esteja investido de toda dignidade e autoridade que o Senhor, em sua Palavra, confere aos ministros da sua justiça; aos súditos compete que tributem à má autoridade a mesma reverência que rendem a um bom rei."...

João Calvino - A instituição da Religião Cristã, Tomo II, Capítulo XX (Do Poder Civil) - Editora Unesp. pág. 897